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Ver Versão Completa : Aos 50 anos....uma história... (um texto)



wgr
04-01-06, 17:22
Esse texto eu ja conhecia, mas como encontrei de novo na net e fala sobre moto, arrisquei colocar aqui.
Espero que seja novidade pra maioria de voces.




Aos 50 anos....uma história...

Ele é um cidadão normal, estabilizado, impostos em dia. Hoje faz 50 anos. Acordou e foi para a garagem, sentou de frente para sua Harley preta, colocou "Little Wing" no pequeno CD e ficou olhando a moto. Realização de um sonho de criança que tomou forma há 6 anos. Quantos anos esperei por isso, ele pensa. Quando comecei a gostar de moto? Não se lembra. Com 13 anos roubava antenas de TV para montar no bagageiro da bicicleta imitando os "Santo Antônios" das "Choppers" americanas. Aos 14 andava mais de meia hora na saída da escola só para passar em frente a uma importadora de motocicletas e ficar namorando a vitrine. Desenhou todas as motos existentes nas folhas dos cadernos. Acaba concluindo que esta é uma paixão congênita.

Meio século hoje. Ele toma a decisão de parar de trabalhar e andar de Harley até o fim dos seus dias . Talvez a saúde, sempre em segundo plano, não permita que ele faça isto por muito mais tempo, afinal são 50 anos. As cicatrizes dos inúmeros tombos quase não aparecem mais, mas as lembranças estão no joelho, ombro e costas que teimam em continuar doendo.

Ele olha a Harley , peça por peça, cada acessório que montou pessoalmente, horas e horas de terapia na garagem. Olha todos os cromados, os detalhes, lembra de quando amarrou o lenço no guidão, cada pequeno item tem sua história, é quase um registro de suas memórias sobre a moto. Ninguém entende esta relação. Um velho refrão lhe vem à cabeça: "Se alguém pedir para explicar é porque não vai entender". A gente já nasce sabendo.

O som continua rolando no CD, enquanto as imagens lhe vêm à cabeça. Quase 36 anos de moto, milhares de quilômetros passaram por baixo dele. Olha para o couro do banco, ali é o único lugar onde ele se sente "real" . Fora dali sua vida foi uma grande peça de teatro onde ele foi o ator principal, fazendo vários papéis às vezes de funcionário dedicado, às vezes de cidadão totalmente enquadrado nas normas da sociedade, sempre representando. Mas sobre aquele banco tudo passa a ser diferente, ele é ele mesmo, alí ele é dono da situação, mudar de direção, acelerar, matar ou morrer, tudo só uma questão de querer.

O vento, Ah! o vento no rosto. Sempre usou capacete aberto para não perder a oportunidade de senti-lo no rosto, o vento que tira de sua alma as culpas, os medos, os pecados. Todo motociclista é amante do vento.

Agora o CD toca um "country" e inconscientemente lhe vem a cabeça imagens de cowboys, tudo a ver, couros, posição de dirigir ou cavalgar, o espírito aventureiro que guiou os "cowboys", os navegadores, os astronautas e todos os que não tiveram medo de descobrir o desconhecido. O que seria do mundo sem eles. O que seria do mundo sem os viajantes. O que seria do mundo sem os "cowboys" do asfalto, dos mares, do espaço.

Por um momento ele sente o cheiro de comida e sabe que sua mulher está lá dentro preparando-lhe uma festa de aniversário. Ele não gosta de aniversários e mais uma vez vai ter que representar, desta vez o papel de aniversariante feliz por estar fazendo 50 anos, mas isto é necessário e também parte da vida.

As mulheres têm ciúmes das motos, elas sabem que isto é mais que um relacionamento entre um homem e uma máquina, é como uma dança erótica onde o homem literalmente conduz "a dama", a cada curva mais forte ela vibra em baixo de você, ao mesmo tempo te obedecendo e te dizendo que a qualquer momento ela pode acabar com a dança. Se você andar no limite uma hora, este é o tempo do seu "clímax" nesta relação. Não dá para não se apaixonar.

Cansado de olhar, ele resolve sair com a moto, senta sobre ela, encaixe perfeito, acaricia o tanque tirando a poeira que a pintura negra não consegue esconder, sussurra "menina... vamos dar uma volta". Vira a chave e aciona a ignição, o ronco dos canos Cobra é imediato e mesmo após seis anos ainda faz correr um frio pela espinha. A cada toque no acelerador os pensamentos vão se esvaindo. Foi dado o início de uma transformação. As luzes do teatro vão se apagando e dando lugar a vida real. Ele engata a primeira marcha e sai levando o som da descarga à decibéis proibidos. Mais uma vez o ator sai de cena para dar lugar ao Homem.

Autor desconhecido

BrunoDias
04-01-06, 18:24
cara, muito bom o texto

um dia tb chego la

BrunoVillas
04-01-06, 20:01
Vixe... Mto legal o texto...

Essa é a melhor definição pro que sente quem anda de moto:
"Se alguém pedir para explicar é porque não vai entender"

Lu Carvalho
05-01-06, 08:01
:clap: :clap: :clap:
Show! Demais!

clark
05-01-06, 08:09
Putz profundo muito bonito o texto!!! :<0>:

roby_enghaw
05-01-06, 08:17
nossa mto fera mesmo

Bicho do Mato
05-01-06, 09:12
Muito bom mesmo.
vlw!