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http://portalexame.abril.com.br/revi.../m0143529.html
Fonte Portal exame:
Nenhuma montadora simboliza tão bem o excelente momento do mercado brasileiro de carros quanto a japonesa Honda. Seus modelos estão entre os mais desejados do país em suas categorias: é preciso esperar até dois meses na fila para comprar o sedã Civic ou o compacto médio Fit. Em cinco anos, a participação de mercado da Honda quase triplicou, e a montadora anunciou planos de expansão de sua fábrica, no interior de São Paulo. Tem-se assim um cenário que beira o idílico para uma montadora, justificativa para estourar garrafas de champanhe e fazer troça da concorrência. Não na Honda. A subsidiária brasileira da montadora tem sido motivo de insatisfação para a matriz, em Tóquio. O problema está no mercado de motocicletas, disparado o mais importante para os japoneses, responsável por cerca de 65% de seu faturamento de 4,6 bilhões de dólares. Aqui, o cenário é de preocupação. Do fim da década de 90 para cá, a montadora japonesa perdeu 18 pontos percentuais de participação no mercado brasileiro de motos -- e nada indica que a sangria esteja no final.
Por quase 40 anos, a Honda teve uma espécie de monopólio desse mercado. Nos anos 90, sua participação beirava incríveis 95%. Para aumentar a concorrência, o governo autorizou a instalação de outras montadoras na Zona Franca de Manaus. A Honda, que antes disputava apenas com a também japonesa Yamaha, viu surgirem rivais como Sundown, Suzuki e Kasinski. "Com a chegada de outros fabricantes, o jogo começou a mudar", diz Rogério Scialo, diretor comercial da Sundown, que conquistou em quatro anos uma participação de mercado de quase 5%. A Yamaha saiu de 12,6% para 13,2%. A Suzuki, de 0,72% para 6,5%. Numa conta matemática simples, pode-se constatar que todo esse crescimento dos concorrentes se deu à custa da perda de espaço da Honda.
Onde está o sucesso
Os modelos Fit e Civic chegaram ao mercado com um conceito inovador de design e espaço interno
As fábricas foram ampliadas e modernizadas
Sua rede de assistência técnica foi considerada a melhor do país por três vezes consecutivas pela revista Quatro Rodas
Resultado: a Honda saiu de 1,5% e conquistou 3,6% do mercado em quatro anos
Segundo os especialistas, o principal motivo para a perda de participação da Honda é uma série de erros em lançamento de novos produtos. Em 2004, a montadora decidiu lançar uma moto de 150 cilindradas e interromper as vendas de modelos de 125 cilindradas, de longe os mais comercializados no país (são as motos usadas por motoboys e equivalentes). Seria como se a Volkswagen desistisse de produzir o Gol 1.0 e apostasse tudo na versão 1.6. A moto de 150 cilindradas, 4,5% mais cara que a versão menos potente, não conquistou o consumidor de baixa renda. Um ano depois, a Honda lançou outra moto de 125 cilindradas. "Nosso objetivo era colocar no mercado um novo padrão de baixa cilindrada", diz Marcos Fermanian, executivo da área de vendas da Honda. "Paramos de fabricar a 125 cilindradas para não confundir o consumidor." Com o vaivém da Honda, os concorrentes ganharam mercado. E a montadora japonesa perdeu 4,5 pontos de participação em apenas um ano. Para recuperar o espaço, a Honda se meteu em outra trapalhada, o lançamento de uma moto de apenas 100 cilindradas, a Pop 100. Lançado com estardalhaço no início de 2007, o modelo foi uma decepção. A Pop 100 custa 4 000 reais, 1 000 reais a mais que sua principal concorrente, a Hunter 90, da Sundown. Em dez meses, a Honda comercializou 75 800 unidades do produto -- metade das estimativas iniciais.
OS RESULTADOS COLOCARAM A HONDA em rota de colisão com seus 630 revendedores, insatisfeitos com a estratégia da empresa. Alguns deles entraram na Justiça contra a montadora. Segundo a acusação, a Honda se recusa a pagar indenização em caso de rescisão de contrato, como manda a lei. O clima está tão azedo que a Honda não enviará representantes à convenção anual dos distribuidores, marcada para dezembro no navio MSC Opera. "Os temas discutidos nesses encontros não nos interessam", diz Fermanian. De acordo com a montadora, os revendedores reclamam à toa. A companhia ainda é líder absoluta no mercado local, e as vendas de todo o setor vêm crescendo exponencialmente em 2007 (como acontece no mercado de automóveis). A receita no Brasil aumenta cerca de 20% ao ano, enquanto o ritmo na China e na Índia está abaixo de 15%. O problema, para a Honda, é que sua fatia no bolo não pára de diminuir. E o crescimento do mercado faz com que o Brasil atraia o interesse de outras montadoras. Seis novas marcas, cinco delas com capital ou tecnologia chinesas, vão começar a produzir motocicletas em Manaus a partir do ano que vem. Entre as novatas estão a Dafra (do grupo de concessionárias Itavema) e a Traxx (empresa do grupo China Jialing, líder no mercado chinês). "Se o roteiro de países como Indonésia e Argentina se repetir por aqui, as concorrentes chinesas vão crescer muito. E rápido", diz Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores. Ao que tudo indica, para a Honda, os desafios do antes cativo mercado brasileiro de motocicletas podem estar longe do fim.
Onde está o problema
A Honda passou a enfrentar a concorrência de novos fabricantes, como Suzuki e Sundown
Lançou produtos que não foram bem-aceitos pelo mercado, como a moto POP 100
Há três anos, iniciou uma briga com os concessionários que foi parar nos tribunais
Resultado: perdeu 18 pontos percentuais do mercado nos últimos oito anos