Amaciamento
Um velho mito sobre motores envolve o amaciamento. Não são poucos os que ainda dispensam ao carro novo cuidados exigidos décadas atrás, como não impor longos percursos nem atingir altos giros durante 3.000 ou 5.000 km.
Hoje a regra é outra: basta não atingir altas rotações (acima de 3.000 rpm) por 100 ou 200 km iniciais. Nesta fase os anéis ainda estão se assentando e é importante não forçá-los. Depois, pode-se explorar todo o regime de giros, o que ajuda até a não "amarrar" o motor -- sobretudo em um esportivo de 16 válvulas e alta rotação como o da Parati do primeiro motor.
Se o motor for "acostumado" ao uso com baixas rotações e pouca carga (entenda-se carga como abertura de acelerador: pé no fundo significa carga total), pode realmente ficar mais lento que um utilizado em sua plenitude. Há, porém, quem discorde desse método
Carro forçada fica mais forte?
A relação entre o modo de dirigir e o desempenho obtido pelo veículo já causou grande polêmica, Alexandre. Especialistas no assunto se dividem entre os que atribuem a agilidade de motor à pilotagem esportiva e os que descartam qualquer ligação entre esses fatores.
A primeira corrente defende que motores utilizados sempre em potência máxima -- o chamado W.O.T., wide open throttle ou acelerador todo aberto -- tornam-se melhores do que aqueles dirigidos "civilizadamente". O assentamento das principais peças móveis (virabrequim, bielas, pistões e anéis) nessas condições seria aprimorado ao máximo grau, devido ao próprio esforço efetuado. Com isso, o atrito entre elas diminui consideravelmente.
Conta a história que a Porsche fabricou um motor 1,1-litro para um 550 da equipe de fábrica, para competir na classe até 1.100 cm3 na 24 Horas de Le Mans de 1953. Esse motor era um 1,5 litro reduzido. Mediram o motor no dinamômetro, como de praxe, e obtiveram 72 cv, em seguida colocando o carro no transporte rumo à França. O carro treinou, correu e venceu na sua classe. De volta à fábrica, mediram o motor só por curiosidade, para saber de quanto tinha sido a perda de potência em função do desgaste. A potência tinha subido para 80 cv!
Outro exemplo célebre: em meados da década de 60, quando Émerson Fittipaldi era imbatível na Fórmula Vê 1.200, seu preparador Roger Resny tinha um segredo. Os motores de corrida eram colocados para rodar em Kombis de uso profissional, que normalmente andavam bem carregadas -- e "pé em baixo", pois o motor 1,2-litro de 30 cv mal conseguia movimentar o utilitário com bastante peso a bordo. Depois de cerca de 2 mil quilômetros os motores eram retirados, as válvulas eram esmerilhadas e os cabeçotes, limpos. Pronto, mais um motor "canhão".
Já os opositores da teoria do W.O.T. acreditam que usar o motor esportivamente não resulta em melhor desempenho, mas antecipa a fase de sua vida útil em que o motor atinge a maior potência. Assim, o procedimento seria benéfico apenas em veículos de competição, reduzindo a necessidade de amaciamento até sua entrada nas pistas. Para essa corrente, andar com aceleração total encurtaria a durabilidade do motor, trazendo mais prejuízos que vantagens.
Acreditar ou não na "mágica" do WOT, portanto, cabe a cada um. Cabe lembrar que o termo está em desuso, pois se referia especificamente à borboleta ou borboletas do carburador. Devido aos sistemas de injeção, em seu lugar usa-se TPS 100, que significa Throttle Position Sensor 100 ou sensor de posição do acelerador 100% movimentado. Preciosismos da era da alta tecnologia...