23/06/08 - 20h59 - Atualizado em 23/06/08 - 22h47
JN volta a denunciar a fraude dos combustíveis
O mercado está com uma adulteração em torno de 27% e o repórter César Tralli recolheu gasolina em três postos, dois com bandeira BR, outro com Texaco. Todos vendiam gasolina adulterada
A comprovação de uma fraude que segue impune na maior cidade do Brasil e não é a primeira vez que o Jornal Nacional denuncia. Quem mostra é repórter César Tralli.
A equipe de reportagem usa um carro adaptado para recolher gasolina. Diante da informação de que a máfia dos combustíveis voltou a agir, repetiremos os testes feitos há pouco mais de um ano.
Na época, 20% dos postos da Grande São Paulo vendiam gasolina adulterada. Era o que a análise das amostras indicavam. Logo depois das reportagens do Jornal Nacional, o índice despencou para 7%. Foram fechados só na capital 174 postos, mas tudo leva a crer que o combate aos fraudadores não foi suficiente.
“Hoje, o mercado está com uma adulteração em torno de 27% e a gente não via isso há muito tempo, há mais de três anos que a adulteração não chegava nesse patamar”, declarou José Gouveia, presidente do Sindicato dos Donos de Postos.
A equipe de reportagem foi ver isso de perto. Antes das novas coletas, o carro vai passar por uma reforma no sistema de abastecimento. “Eu estou retirando a tubulação de entrada de combustível para o tanque e eu vou adicionar um desvio em forma de ‘T’. Vai ter um registro que vai impedir o combustível de entrar no tanque e vai ser desviado para um galão dentro do carro”, explicou Daniel Silva Barbosa, técnico em transformação automotiva.
A intenção é comprar a gasolina sem despertar suspeitas. Queremos abastecer como qualquer motorista. Feita a modificação no carro, seguimos para a Zona Leste, a campeã da mistura ilegal em São Paulo.
Segundo o Sindicato dos Donos de Postos, quatro em cada dez comerciantes da região vendem gasolina com mais álcool do que os 26% permitidos por lei e ainda misturam solventes que estragam o motor do carro.
Primeira parada, posto Marta e Branco, bandeira BR, da Petrobras. É um dos postos na lista negra do mercado. O carro da coleta estaciona, o frentista abastece, a gasolina desviada do tanque cai no galão.
Missão cumprida, seguimos para o próximo destino: posto Chaparral, bandeira Texaco. O carro estaciona, o frentista dispara a bomba e lá vem a gasolina.
Agora, posto Map, outro de bandeira BR. Compramos mais um pouco de gasolina e vamos embora rumo ao exame do material coletado.
Quem faz a análise é o técnico em combustíveis do Sindicato dos Donos de Postos. Gasolina do posto Marta e Branco: o teste da proveta revela que, em vez dos 26%, a amostra tem 46% de álcool.
A gasolina do posto Chaparral também não passa no teste da proveta. Tem mais que o dobro de álcool: 54%.
Gasolina do posto Map, recorde da fraude: 56% de álcool e a parte amarela da mistura está totalmente fora dos padrões. “O máximo da concentração de benzeno é de 1%. Deu 3,18%”, afirma o técnico.
“A estrutura a ANP é bastante precária. Eu tenho aqui dez agentes de fiscalização para fiscalizar todo o mercado de combustível. Além disso, nós achamos que a legislação precisa endurecer mais. Alguém que adultera combustível, não pode continuar no mercado, trabalhando normalmente”, declarou Alcides Amazonas, coordenador da Agência Nacional do Petróleo (SP).
Vamos, então, à procura dos golpistas. No posto Marta e Branco, nem dono, nem gerente. Uma hora depois, o frentista encontra o proprietário e repassa a ligação.
A gasolina do posto tem 46% de álcool, mas o dono não quer falar sobre qualidade de combustível.
Seguimos para o próximo posto. É o Chaparral, onde também só encontramos frentistas. “O responsável está chegando em dez minutos”.
Quase uma hora depois aparece o supervisor, que evita a câmera. Ele localiza o dono, mas não permite o contato direto, nem passa o número do telefone.
O consumidor fica sabendo: mais da metade do combustível que ele comprou como gasolina é álcool. “Neste momento, eu acabei de ser lesado. Estou com a minha família, estamos indo para o Paraná, se algo acontecer na estrada, quem vai pagar o meu prejuízo?”.
O campeão da adulteração na Zona Leste mora neste prédio. A amostra que recolhemos no posto dele tem 56% de álcool e nenhuma gota de gasolina boa. Não tivemos a sorte de encontrá-lo em casa, nem no escritório. Tampouco no posto que vende a gasolina batizada e nem em outro posto, que também é dele.
Reinaldo Bezerra, conhecido como Reinaldo Leiteiro, é mais um dono de posto invisível nesse mercado sem controle.
A assessoria da Texaco não conseguiu localizar os diretores da empresa para comentar a denúncia de fraude no posto que tem a bandeira dela. A BR Distribuidora afirmou que vai apurar o caso e que tomará providências.
Vídeo: http://jornalnacional.globo.com/Tele...BUSTIVEIS.html