(trilha sonora do dia: AC/DC - Stiff Upper Lip)

Sempre tive curiosidade de andar numa moto custom, que apesar de achar o estilo parecido com o sofá da minha avó, me parece a moto mais "aventureira".

Um amigo meu, a cerca de um ano atras, acabando de receber uma indenização (de nosso antigo trabalho), teve um impulso louco ao ver uma Virago250 a venda na rua, e a comprou, mesmo sem habilitação "A". Na época ficou a promessa de irmos até Itaipava/RJ, para rodar pela BR040, que é uma (rara) estrada em ótimas condições.

Quase um ano depois, a promessa já quase esquecida, e o cara finalmente consegue a habilitação (quinta feira passada) e resolvemos viajar (ele de moto e eu de carro, pois minha moto está em Angra no momento). Já na saída, ao pegar a moto no estacionamento, ele quase flagrou dois "ladrõezinhos" tentando roubar a rabeta da Virago. estava tudo espalhado pelo chão, amortecedor direito solto, e vários parafusos faltando. A solução foi empurrar a moto até uma oficina, pra recolocar tudo e fixar o amortecedor. Na verdade continuou tudo solto ... só montamos direito sábado a noite.



Quando nos encontramos na estrada, no local combinado, já percebi a falta de experiência do motociclista novato: a namorada dele com uma mochila enorme nas costas, daquelas de montanhismo, estufada de tudo quanto é tralha, e ela quase caindo por cima do "sissy bar". A mochila gigante acabou indo na mala do meu carro. Eles estavam levando para 2 dias, mais bagagem do que eu de carro... e não culpem a mulher ... é ele que leva mesmo.... de noite encontrei até uma garrafa de Absolut lá dentro ... o notebook não foi por pouco.

Voltamos à estrada, eles na frente e eu escoltando com o carro. Tudo transcorreu perfeitamente até o início da serra de Petrópolis. Definitivamente a suspensão de uma custom não foi feita para o piso de concreto (mesmo sem buracos): A moto sacolejava muito nas ondulações, mas tratando-se de uma moto de 64.000km, já pode estar na hora de trocar os amortecedores traseiros. Curvas fechadas também exigem prática, e o meu amigo raspou o calcanhar esquerdo no asfalto 4 vezes, ao passar por ondulações no meio das curvas. Esta moto não foi feita para deitar, e as pedaleiras estão sempre a poucos centímetros do chão ....



Depois da serra, chegamos à melhor parte da BR040, habitada normalmente por jaspions que passam por nós a 300 por hora .... são cerca de 150km de retas e curvas suaves, com asfalto bom, até Juiz de Fora/MG. Até Itaipava a viajem transcorreu sem problemas.





Chegando em Itaipava, pude observar melhor a moto:

É uma Virago 250, ano 99, modelo 2000, com cerca de 64.000km rodados, e um pouco surrada pelo antigo dono: pontos de ferrugem, escapamento operado (porém silencioso - um dos escapes estava furado e foi "unido" ao outro ... porqueira total), relação pedindo socorro, carburador entupido, tanque um pouco amassado e arranhado, aro dianteiro com 2 calombos, gambiarras alétricas, sensor do descanso e embreagem desligados .... e muita sujeira. Tentamos limpar... apelei até pra descarbonizante (Car80), mas se fôssemos deixar ela realmente limpa precisaríamos de todo o fim de semana e mais um pouco. Aparentemente esta moto sempre dormiu ao relento e nunca foi lavada de verdade. Enfim: era uma legítima moto de velho gordo barbudo, ainda com alforges enormes, "sissy bar", aquelas pedaleiras deslocadas pra frente, que esqueci o nome, para-brisa, adesivos de moto-clubes espalhados ... Apesar disto, o motor estava (quase) perfeito, muito silencioso e sem qualquer vazamento de óleo, aparentemente ainda lacrado de fábrica. A suspensão estava boa, e os freios idem. Nenhuma folga aparente.





Enfim ... fui até a cidade comprar pão, e obviamente ... fui de moto ! Aproveitei e fui logo na cidade vizinha (60km ida e volta...). A saída é direto numa estrada de barro cheia de pedras soltas e a Virago já entra na descida saindo de traseira e pulando feito uma charrete... preciso me acostumar ... Já no asfalto da BR040 a situação muda: arrancada excelente, e em poucos segundos já estou a 90 e poucos por hora (o limite é 110). Ótima arrancada, ótimo torque, motor silencioso, anda com facilidade, mesmo sendo 250cc, mas parece não gostar muito de andar acima dos 100km/h.



Conforto total: além do motor silencioso, os bancos são ótimos, e parece que posso rodar o dia todo sem me cansar. Ao contrário da XLX, nem percebo que tinha gente na garupa ... são 2 lugares independentes ! O pedal do freio me lembra o de um Fusca, devido a seu formato e posição. O câmbio também é ótimo, e as 5 marchas engatam com grande facilidade. A embreagem é macia como numa moto 0km, e o acelerador idem, mesmo com o cabo de retorno. Achei o freio traseiro forte demais e dei algumas travadas de roda até me acostumar. Já o dianteiro pareceu mais fraco que o de tambor da XLX. Não sei se é a idade da moto, ou característica das estradeiras. Saí da BR040 em frente a fábrica de cerveja Itaipava, e peguei uma estrada de acesso até Secretario. Agora estava em uma estrada boa, mas de mão dupla, sinuosa e com alguns "quebra-molas" pelo caminho.



De cara já percebo o ótimo torque do motor V2, onde as trocas de marcha são raras ... parece que as marchas "rendem" bem mais do que num 250cc de 1 cilindro. Ao sair de um quebra-molas, mal acelero e a Virago já retoma velocidade. Mais conforto ....



Parei na padaria, comi um sonho (que mais parecia um pesadelo - estava velho), comprei pão, coca-cola, espalhei tudo pelos alforges (onde ainda sobrou muito espaço), e iniciei minha volta.







De volta a BR040, experimentei as pedaleiras "de descanso" (aquelas mais deslocadas pra frente) ... conforto máximo. Como já estava escurecendo, começou a esfriar, e o enorme para-brisa cumpriu seu papel.



O que concluir ? A Virago é, como já imaginava, uma ótima moto. Sou suspeito pra falar, afinal eu gosto de todas as motos que piloto .... agora fiquei indeciso quanto a minha segunda moto, que tinha certeza que seria uma XT600 ... agora existe a possibilidade de ser uma estradeira. A suspensão, que achei ser o maior problema, não é tão ruim assim, e só senti o batente dos amortecedores quando andaram os 2 homens na moto... o que é covardia, pois 180kg não é pra qualquer uma ...