ECONOMIA O ESTADO DE S.PAULO

Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2005
Honda quer projetar motos no País
Subsidiária brasileira busca autonomia da matriz. Hoje, empresa apenas adapta modelos desenvolvidos no Japão

Cleide Silva


Aos 35 anos de atuação no mercado brasileiro, a serem comemorados em 2006, a Honda, maior fabricante de motocicletas do mundo, vai buscar autonomia junto à matriz no Japão para desenvolver produtos nacionais. Os veículos da marca fabricados em Manaus são todos criados pela matriz. A operação do Brasil, quinta maior do grupo japonês, recebe os projetos prontos e apenas faz adaptações nas cores e faixas de modelos. “Nosso desafio nos próximos anos é ganhar autonomia”, confirma o diretor de vendas, Marcos Zaven Fermanian.
O desafio para conseguir independência na área de projetos é para o curto prazo, diz Fermanian. Segundo ele, o Brasil ainda precisa desenvolver mão-de-obra especializada na área de engenharia para motos. A favor da subsidiária está a grande participação no mercado nacional. De cada dez motos vendidas no Brasil, oito são Honda. Em nenhum outro país a presença da marca é tão forte.

Num mercado que cresce há praticamente 13 anos consecutivos – com um escorregão de 4% em 1999 –, as vendas de motos devem ultrapassar pela primeira vez a marca de 1 milhão de unidades. A indústria de duas rodas também vai bater recorde de produção, com cerca de 1,2 milhão de unidades, e de exportação, com 200 mil.

A Honda detém 82% do mercado doméstico, participação 2,5 pontos porcentuais abaixo da registrada em 2004. Perdeu mercado para as concorrentes Yamaha, Companhia Brasileira de Bicicletas (CBB) e Harley Davidson, do grupo de fabricantes de menor porte que divide os 18% restantes do mercado.

A perda ainda não assusta a direção da Honda. Mas a disputa de mercado vai se acirrar no próximo ano, quando está previsto o início das operações das fabricantes chinesas Haobao, Moto Traxx e Cross Lander, esta última em parceria com a empresa Chong Quing. As três têm projetos aprovados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e prometem iniciar a montagem de produtos populares. “Nos últimos dois anos ampliamos a capacidade da fábrica, renovamos a linha de produtos e a rede de distribuição e, com isso, esperamos manter nossa participação no mercado na casa dos 80%”, diz Fermanian. A empresa ainda estuda o lançamento de uma moto mais popular que as atuais, produto esperado pelos concessionários desde o início deste ano. O modelo mais barato, o C100 Biz, custa R$ 4,4 mil. A CBB, que produz motos da marca Sundown, anunciou em outubro, mas ainda não colocou à venda, uma moto que seria a mais barata do mercado, a Hunter 90, por R$ 2.990. Mesmo sem o produto nas lojas, a marca acumula aumento de 60% nas vendas em relação a 2004.

SEM FÁBRICA NOVA

A Honda suspendeu, por enquanto, o projeto de construção de uma nova fábrica, prevista para quando a empresa atingisse a produção de 1 milhão de motos. “Optamos por ampliar a atual fábrica, que hoje tem capacidade para 1,2 milhão de unidades e pode chegar a 1,3 milhão, apenas com investimento em maquinário”, diz Fermanian. Nos últimos dois anos, os investimentos em Manaus somaram R$ 220 milhões. A Honda espera produzir 1,020 milhão de motocicletas em 2006, ante 980 mil este ano. As vendas internas devem chegar a 900 mil unidades, um aumento de 9% em relação a este ano. Já as exportações devem cair de 145 mil para 120 mil unidades por causa da defasagem cambial, que levou o grupo a perder contratos, principalmente na Europa.

A produção de todas as marcas em 2005 deve superar em 13,4% a do ano passado, até então recorde do setor, com 1,057 milhão de unidades, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo). As vendas internas devem crescer 10,7%, para 1,008 milhão de unidades, enquanto as exportações devem passar de 170 mil unidades, 20% acima de 2004.

ECONOMIA O ESTADO DE S.PAULO

Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2005
Vendas devem superar as de automóveis
Projeção para 2010 é de 1,57 milhão de motos comercializadas

Cleide Silva


O Brasil tem uma frota de motocicletas calculada em cerca de 7,6 milhões de unidades, de acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O número equivale a 30% da frota de carros de passeio, de aproximadamente 25 milhões de unidades. Essa participação deve se alterar nos próximos anos, quando é esperado um crescimento mais acentuado das vendas de motos em relação às de automóveis.
Num prazo de cinco anos, as vendas anuais de motos devem superar as de automóveis, prevê estudo realizado pela Lafis Consultoria, Análises Setoriais e de Empresas. O preço mais em conta comparado ao de um carro, baixas prestações de financiamento, o gasto menor com combustível e a facilidade de locomoção no trânsito das grandes cidades são os principais itens que devem impulsionar o mercado brasileiro de duas rodas.

A moto de maior sucesso da Honda, a CG 150 Titan, que custa entre R$ 5,4 mil e R$ 6,3 mil, vendeu este ano, até novembro, 413,2 mil unidades, duas vezes e meia mais que as vendas do Volkswagen Gol, líder do mercado de automóveis de passeio, com 159,8 mil unidades comercializadas a preços que variam de R$ 24,5 mil a R$ 33,1 mil.

Em 2005, as vendas totais de motos devem atingir 1 milhão de unidades, enquanto as de carros de passeio vão somar 1,375 milhão de unidades. Nos próximos quatro anos, a diferença entre os dois segmentos será reduzida gradativamente e, em 2010, as projeções apontam para a comercialização de 1,57 milhão de motos e de 1,558 milhão de automóveis.

Segundo o analista setorial da Lafis, Tiago Salvestrini Franceschini, os cálculos foram feitos com base nos índices de crescimento e projeções futuras dos dois setores num período de 16 anos, de 1995 a 2010.

O estudo também leva em conta a chegada de novos fabricantes ao País, principalmente de marcas de países asiáticos como China e Índia. “Quando o mercado interno passa de 1 milhão de unidades, chama a atenção dos investidores”, afirma o consultor.

ACIDENTES

Da frota brasileira, cerca de 2 milhões de motos circulam no Estado de São Paulo. Na seqüência de maiores consumidores estão Minas Gerais, com aproximadamente 860 mil motociclistas; Rio Grande do Sul, com 540 mil; Paraná, com 542 mil; e Goiás, com 366 mil. Diante do crescimento da frota e do aumento de acidentes envolvendo motociclistas, as próprias empresas estão adotando estratégias para a educação no trânsito.

A Honda disponibiliza nas 615 revendas da marca em todo o País instrutores de pilotagem. Também criou, em conjunto com a rede de concessionários, 30 centros de treinamento, com auditório para palestras e pistas de pilotagem, serviços que são oferecidos gratuitamente aos clientes.

O objetivo é ampliar para 50 o número de centros no próximo ano, informa Marcos Zaven Fermanian, diretor de vendas da empresa.