Fórmula Honda 125 - Foto do lançamento, em 1978No final dos anos 70, o motociclismo de competição, no Brasil, ainda sofria com a proibição das importações, que teve início em 1976.A Yamaha conseguia, ainda, trazer as suas 350 de competição e, assim, fazer uma categoria "monomarca" especial, pois as outras fábricas não estavam interessadas em trazer motos para competir com as, na época, imbatíveis TZs.
Para acabar com essa hegemonia, o regulamento começou a ficar flexivel, aparecendo, então, as categorias "esporte", onde se viam desde velhas TR hibridas com RD até as CB750 com Kits 812, 840, etc..Mesmo assim eram categorias muito caras e não adequadas para iniciantes.
Quem quisesse começar a competir, tinha que recorrer as já cansadas Mòndial ou Ital-Jet nas50cc ou tentar se virar com o que também tinha um custo alto e já começava a ficar desgastado: as motos de 350 a 750cc, da primeira metade da década de 70, para poder competir na categoria "Estreantes e Novatos".
Protótipo Mòndial / Yamaha F5 50cc - 1972
Yamaha RD350 1973- Categoria Estreantes e Novatos, em 1976Com o início da fabricação das CG125, em 1977, o custo das motocicletas dessa cilindrada, ficou mais atraente e, então, em 1978, a Honda resolveu organizar a primeira monomarca da categoria, no Brasil, dedicada a pilotos iniciantes.
Essa iniciativa abriu os horizontes de quem queria começar a competir, agora, no mesmo nível técnico.
Os pilotos melhores classificados (10% da média de participantes) no campeonato, não poderiam participar do torneio no ano seguinte, sendo que estes poderiam tirar a carteira "Piloto de Competição"(PC).
A motocicleta básica, em 1978 foi a Honda CG125 de produção com as seguintes liberações de preparo: >>Retirada das partes "street":
guidon, retrovisores, piscas, faróis, lanternas, para-lamas, pedaleiras, pedais de garupa, banco, escape, filtro de ar, velocímetro, cavaletes, etc..>>Instalação de um Kit fornecido oficialmente pela Honda, que constava de:
capa do tanque, rabeta, carenagem integral completa, para-lama dianteiro, pedaleiras recuadas e pedal de freio.>>Retirada da parte elétrica, ficando somente a básica, suficiente para alimentar o motor.>>Coroa e pinhão - livres>>Instalação de semi-guidons baixos (tipo "Tomaselli")>>Escapamento dimensionado - livre>>Carburação - corpo do carburador original - calibração livreO resto; pneus, rodas, suspensões, freios, motor, cambio, etc, tinha que ser conforme produção!!!O numeral era obrigatório ser de fundo preto com os números (normalizados) em branco, conforme padrão mundial da categoria 125cc, sendo colocado à frente e nas duas laterais, na rabeta. |
No final de 1978 estreou a categoria. Foi um sucesso total!!!A Honda zelou primorosamente pela organização, controlando de perto as motos e pilotos, quanto à segurança e à obediência ao regulamento.
Equipes oficiais (revendas autorizadas) e particulares, primaram pelo colorido das motos, macacões e capacetes, que proporcionavam, então, um clima de festa no nível das corridas do campeonato mundial, coisa que não estávamos acostumados a ver em nossas "desgastadas" competições.Isso gerou confiança nos patrocinadores, que começaram a investir nesta pequena, mas valente, categoria, que prometia dar retorno comercial.Os pilotos iniciantes, por sua vez, também confiaram no evento e se empenharam para manter o alto padrão das competições.O numero de inscritos foi algo nunca visto em uma categoria tão nova, considerando que não se tratava de nenhuma "500 milhas" ou "24 Horas"!!!
Primeira volta da prova inaugural, em 1978, no "retão" de Interlagos. Alta "densidade demográfica".Chegava a impressionar o ruído dos pequenos monocilíndricos acelerando simultaneamente, na largada das provas, em Interlagos...
Foto da primeira volta de uma das provas da categoria Fórmula Honda 125ccNas curvas 1,2,3 e 4, do antigo circuito, nas primeiras voltas, dava para tocar a moto a seu lado, tão perto que se faziam as curvas. Que confiança...
Por vezes, havia um "abuso" dessa confiança:
Algumas "Figurinhas Carimbadas", tinham o conveniente vício de se "ancorarem" na rabeta da moto à sua frente para, com o braço, impulsionarem-se ganhando mais velocidade para poder efetuar a ultrapassagem...
Dificilmente, esses episódios eram relatados à direção da prova...
Enfim, isso era um dos folclores da Fórmula Honda...Todos nos conhecíamos e tínhamos uma confiança mútua, pois fazíamos manobras muito próximos um do outro, e só poderíamos fazer isso, conhecendo e confiando no adversário.Cada corrida era realizada com a distancia a ser percorrida variando de 30 a 48Km, dependendo do circuito.
Em Interlagos, isso significava 6 voltas pelo circuito integral (~7,9Km).A pontuação era feita até o 10° lugar, o que motivava bastante os pilotos, uma vez que largavam até 30 motos por corrida.Em 1980, os motores passaram a ser a álcool, e a Honda liberou a 125ML (com o freio dianteiro a disco, e com a suspensão dianteira tipo "Cerianni"), para receber o "Kit Fórmula Honda 125".
Marcos Pasini na Equipe Moto Jumbo, em 1980 Os tempos, por volta passaram, então, para o pelotão da frente, a ficar pouco abaixo dos 4min !!!
Considerando-se que o circuito "tradicional" de Interlagos mede 7873m, isso dá uma média de 112,9 Km/h, por volta, se o tempo for de 4min "cravados".O motor OHV 125, convertido para álcool (com retífica 1mm, e ~0,9mm de "rebaixamento" no cilindro), com uma relação de coroa/pinhão de 33/17, virava a 10000rpm, já na metade do "retão" de Interlagos, flutuando válvulas, as quais eram calçadas com a posição das molas invertidas.
Como pneus e suspensões tinham que ser originais, somente se adicionava mais óleo nos garfos telescópicos e calibrava-se o pneu dianteiro com mais pressão, para evitar o "balanço" em curvas de alta.
Mesmo assim, imaginem fazer a curva 3 "flat", perto dos 150 km/h com uma 125ML!!!
É difícil, não é? Só tendo andado lá para acreditar que isso é possível...
Grandes equipes participaram desta categoria, nessa época, em S.Paulo:Moto Jumbo
Fórmula G
Comstar
Renome
Consórcio MariAuto
Moto Mavi
Diamoto
Moto Zuffo
Camilo Motos
Moto Janda
Moto Chapline tantas outras, que coloriam o autódromo em dias de corrida. |
A Fórmula Honda 125 foi, também, o berço de grandes nomes do motociclismo nacional como: Cajurú, Birigüí, José Cohen, Santo Feltrin, Carlos Gadó, e outros, que fizeram, ou ainda fazem, a história do nosso motociclismo de competição.
Era comum acontecer tombos fabulosos, devido à grande densidade de motos por m2 !!!
Tombo histórico em 1980. Os irmãos Feltrin de "pernas para o ar"...
Ao fundo o "Cenoura" ganhando 2 posições!!!O calendário das competições da Fórmula Honda 125, em São Paulo, coincidiam com o do campeonato paulista, com direito a uma prova pelo anel externo, durante a "Taça Centauro".
As provas pelo anel externo, eram mais velozes do que as tradicionais, pelo circuito completo.
As pequenas 125, chegavam a não utilizar os freios, a não ser em alguma situação de emergência.
Largada na Taça Centauro (anel externo) de 1982
Da esq. p/ dir. Mário Pini ( 8 ) e Marcos Pasini ( 20 )No fim do ano, aconteciam as provas do campeonato brasileiro.
Era uma prova em cada circuito regional, onde reuniam-se os 10 primeiros colocados de cada campeonato regional.
Eram realizados campeonatos regionais conforme descrito abaixo:Sul-Brasileiro (Tarumã)
Paulista (Interlagos)
Rio-Norte (Jacarepaguá)
Brasil-Central (Brasília e Goiânia) |
Ainda em 1980, tivemos uma prova noturna, somente pelo anel externo. Imaginem a iluminação no final do "retão" de Interlagos, com apenas um farol por moto...
Equipe Fórmula-G em 1980 Em 81 e 82, o sucesso se repetiu, com disputadíssimas provas nos campeonatos paulista e brasileiro porém, em 1983, já tendo seu brilho ofuscado pelo aparecimento da Fórmula Honda CB400, realizou-se o último campeonato dessa categoria, como monomarca oficial.
Equipe Consórcio Mari-Auto, em 1981
Da esquerda p/ direita: Mário Pini, Marcos Pasini (piloto) e Ricardo Pupo
Equipe Consórcio Mari-Auto em 1981 Aos poucos, as revelações da Fórmula Honda 125, foram se transferindo para esta nova categoria que acabava de ser lançada, criada para pilotos de nível "POC"(Piloto Oficial de Competição) e "PC"(Piloto de Competição), onde se encontrariam feras do gabarito do "Tucano", com os recém saídos da 125, porém com o "braço" afíadíssimo!!!
A Fórmula Honda CB400 veio profissionalizar mais um pouco o motociclismo de competição no Brasil. Mais isso contaremos em outra matéria...
Marcos Pasini na Equipe Moto Zuffo, em 1983Fórmula Honda 125:A ousadia de uma geração que queria apenas competir em nível de igualdade técnica, para poder conhecer e mostrar seu valor como piloto.Esta, foi uma iniciativa pioneira, que colaborou para o engrandecimento de nossas provas de moto-velocidade.E para nós, que participamos desse evento, fica a lembrança de uma época dourada do motociclismo de competição no Brasil.
Jamais esqueceremos a emoção de participarmos de um evento tão bem elaborado, bonito e competitivo.