Pois é gurizada, estou pensando faz tempo nisto: depois de várias motos pequenas no curriculum, hoje eu me considero um cara de saco cheio da lambuzeira de corrente/coroa/pinhão, e não aguento mais ficar trocando marchas no trânsito urbano.
Velhice chegando? Preguiça, talvez? Não, se eu me considerasse velho ou preguiçoso, provavelmente não estaria mais andando de moto, coisa que vários colegas e amigos meus já fizeram. Eu apenas quero curtir a pilotagem em duas rodas com mordomias como câmbio automático e ausência de manutenção e limpeza de relação secundária.
Então, fiquei esperando que aparecesse um Burgman 125 na loja Suzuki para testar. E neste sábado eu consegui.
E já posso adiantar: aprovado! Eu diria mais: surpreendente!
Fiz um bom test drive do Burgman 125, em asfalto bom, asfalto ruim, buracos, ruas de paralelepípedo, trânsito movimentado, e até um trechinho curto de estrada. Estava sozinho, o que acho altamente recomendável para um scooter ou moto 125: veículo de transporte individual, com eventuais caronas.
Macio, confortável, silencioso, motor valente, partida elétrica/pedal, freio a disco, bonitos e muito eficientes pneus sem câmara, ótimo acabamento na parafernália plástica (nenhum ruído, bateção, etc.), comandos de punho muito bons, pisca de retorno semi-automático (coisa comum hoje em dia mas que falta na Trudi 125), lampejador de farol, trava muito prática e inteligente do banco, banco confortável, espaçoso e anatômico, e isso tudo num veículo bem estiloso, e que apesar de ser do tipo "Só acelerar", não tira o prazer de pilotar em duas rodas, pelo contrário, o motor/câmbio sem vibrações e o silêncio da tocada firme que ele tem, passam uma agradável sensação de estar de bem com a vida, principalmente se acima do capacete tiver sol e céu azul.
O tamanho da rodinha dele (10 pol.) pode assustar só de olhar, mas andando, o Burgman tem tanta estabilidade que a primeira coisa que a gente esquece é que está num veículo com rodas pequenas. Fiz um trajeto que faço quase diariamente a caminho do centro da cidade, fiquei impressionado com a valentia e o conforto com que o Burg enfrentou a mesma buraqueira por onde passo com a minha Intruder 125. E isso que eu fazia pontaria justamente nos buracos, só para testar o dito cujo. }-) Pensei comigo mesmo: vou tocar esse trumbico direto nos buracos, tenho que ter certeza se ele é bom nisso ou não.
E como é bom!, as suspensões absorvem muito bem, a dianteira é fantástica, a traseira pode pular um pouquinho, mas não chega a incomodar, e o Burg fica sempre sob controle.
Motor absurdamente silencioso, e praticamente inexiste vibração. Com essa sensação de pilotar um veículo que simplesmente desliza no asfalto, a gente vai acelerando, vai gostando, continua acelerando, e quando percebe, os carros começam a atrapalhar. Ao conferir o velocímetro, eu estava em velocidade maior do que aquela que imaginei. E maior do que a permitida para a grande avenida em que eu estava. Era só o que faltava, correr o risco de ser multado por excesso de velocidade! Eu! Logo eu, um dos maiores roda-pressa que já apareceu em Foruns de moto, 80 Km/h para mim já é velocidade da luz! :lol:
Sempre pensando que se trata de um veículo pequeno de apenas 125 cc e potência razoável, fiquei impressionado com a arrancada estúpida que o Burgman tem. Numa saída de sinal, pode-se tranquilamente pular na frente de qualquer viatura de 4 ou mais patas, e só se perde para motoboys alucinados lá pelos 50 Km/h em diante.
Na retomada ele também é muito bom, mas é como em qualquer veículo automático: abre o punho e espera um segundito, em seguida ele "se dá conta", e sái em disparada.
Muito divertido socar a mão com o Burgman e perceber que ele fica "pensando" um pouquinho e trabalhando as polias de transmissão, para em seguida sair feito um buscapé!
Até hoje eu só tinha andado em Vespa e Jog, nunca tinha pilotado um scooter 4 tempos com tecnologia superior à era scooter 2T. Como tudo evoluiu no segmento dos scooters! Talvez por causa da paixão que o mercado europeu tem por esse veículo, a concorrência acabou puxando a tecnologia, a diversidade de modelos, e também o preço para baixo. Eu lembro que em 1994 a Honda trouxe o Spacy 125 para testar o mercado, e na época esse scooter custava uma graninha preta. Hoje o Burgman aqui em POA está com preço ao nível de Titan 150 KS!
Freios: impecáveis! Nunca pilotei um veículo de pequeno porte com freios tão eficientes. Pode-se quase alicatar os freios, e o Burgman gruda, permanece em linha reta, afunda a frente muito pouco, e pára em espaços limitadíssimos. Fez lembrar os excelentes freios que equipam a Falcon 400.
Eu matei completamente o preconceito que eu tinha sobre scooters com rodas de aro 10. Eu nunca entendi o porquê da Suzuki trazer para o nosso Brasil esburacado um scooter desse tipo. Simples: o conjunto de suspensões e freios do Burg é tão bom e os pneus com "grip" tão bom, que roda maior é apenas detalhe. Óbvio que a eficiência do Burgman 125 aumentaria em muito com rodas de aro 13, mas aí é aquela velha história, seria outro modelo de custo mais alto, preço final maior, etc. Para o porte pequeno e preço acessível do Burg 125, não precisa mais que esse tipo de roda. A única possibilidade de um tombo feio é cair numa "cratera asfáltica" e desgovernar. E esse risco a gente corre com qualquer moto pequena e leve.
Eu diria que dá para ser feliz com rodas aro 10 até mesmo na buraqueira, é só seguir aquele conselho que a mamãe sempre nos dava quando a gente tropeçava e caía, chorando e humilhado: "Olha pra frente!" :P
Ou seja, se você ficar esperto quanto ao piso à frente do Burgman, dificilmente ficará em situações sinistras por causa das rodas pequenas. É tarefa fácil, conduzir o Burgman como uma motoca de passeio, sem loucuras ou pretensões de "pegas" (rachas) com motoboys e Titanzeiros.
Cheguei à conclusão que o Burgman 125 é tão guerreiro e prático quanto qualquer outra moto de 125 cc, com algumas vantagens: transmissão automática firme e progressiva com bom torque, sem preocupação com corrente/coroa/pinhão melequentos que sujam tudo, aumentam a vibração na moto e duram menos do que a gente imagina. Eu não suporto mais corrente e meleca de corrente, rezo diariamente para que um dia Deus me dê uma moto com correia dentada ou eixo cardã.
No trecho em estrada foi possível manter a velocidade que acho ideal para qualquer moto 125 cc: 80 Km/h, com direito a esticada tranquila até 90 Km/h, onde já se entra numa faixa pintada de vermelho no velocímetro, alertando o piloto que a prudência recomenda não ficar muito tempo ali. Boa estabilidade, sem pular, sem balançar.
Com o Burgman 125, eu poderia ter o mesmo ritmo que mantenho com a Intruder 125, de 70 a 90 Km/h em estradas secundárias, evitando as estradas de alta velocidade.
Eu diria que o Burgman 125 é tão bom, que eu gostaria de ter um Burgman 400!
Como o Burg 400 tem preço inatingível para mim na atual conjuntura, coloquei o Burgman 125 na lista de prováveis. E ele sairia da loja com o tradicional pára-brisa.
Já existe um pequeno e estiloso pára-brisa original Suzuki que pode deixar o Burgman mais bonito e confortável do que já é, é só procurar nas autorizadas ou em lojas de acessórios. Ele é preso por dois pequenos parafusos que devem atravessar a carenagem do guidão, e fica um visual muito bonito, sem ficar com aparência brega. Só é bom escolher quem vai instalar, tem que furar a carenagem original do Burgman, e isso não é para qualquer mechânico.
Tá, e aí, só coisa boa? Não tem nada que pegue, não? Sim, tem alguns detalhes de acabamento, como os retrovisores que poderiam ter uma área de visão maior, e ficarem quietos no lugar deles, porque no Burg que testei eles perdiam a regulagem pela ação do vento contra.
A abertura do banco é pela chave de ignição, genial, só que sofri para pegar o jeitinho de virar a chave e abrir.
Os manetes de freio poderiam ser levemente mais compridos, achei muito curtos, e nesse caso, manetes com boa pegada é fundamental, afinal de contas, é ali que a mora a nossa segurança, pelos comandos de freio, né?
O painel merecia um design melhor, talvez alguma coisa digital bem forte na luminosidade para facilitar a leitura, porque quem está acostumado com moto, tem que baixar demais a cabeça para ler o painel. Até é completo para um scooter, mas confuso principalmente no velocímetro, existe um excesso de graduações pintadas que indicam as velocidades, e acima de 80 Km/h as graduações são pintadas em vermelho, e aquilo deixa a gente na dúvida: o vermelho é recomendação de prudência na velocidade, ou é para dizer que o motor está entrando na faixa vermelha de giros? Acho que é mais um alerta de velocidade, porque acredito que o Burg tenha corte de giros.
A meu ver, muito pouca coisa de ruim no scooter, tudo poderia ser resolvido numa revisão geral desses detalhes de acabamento, e que certamente não alterariam o preço final do Burg.
Quem está pensando em conforto sem abrir mão da felicidade de pilotar em duas rodas, pode abraçar o Burgman 125 que tenho certeza de que não haverá frustração ou arrependimento. Mas sempre com aquela visão: é apenas 125 cc, é pequeno, e é destinado de preferência a transporte individual. Infelizmente não é estradeiro por causa da limitação de potência, porque pela valentia, ele é capaz de tudo.
Para quem quer um scooter estradeiro, e tem bala na agulha para isso, existe o Burgman 400.
E já me falaram na revenda que a J. Toledo tem previsão de trazer o Burgman 650.
Podem imaginar a "nave" que deve ser um Burgman 650?
Abraço. Até.