Bom cara a tua história é meio triste mas a minha com certeza é bem mais, é longa mas acho que vale a pena ler...
17 de Julho de 2005
Estava eu em uma manhã de sol indo para aula, acordei 20 minutos mais cedo que o normal para não precisar correr e chegar tranquilo à aula...
Retirei com todo carinho minha tutu da garagem, duas semanas e meia de vida da tadinha em minha mão...
Andei cerca de 1,3Km até a entrada da BR 116 na altura da Pepsi - Sapucaia do Sul - RS, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, sinal do semáforo fecha para a BR 116 e abre para quem vai sentido Sapucaia do Sul -> Porto Alegre, como era um sábado, sete e meia da manhã, a BR estava vazia, era apenas eu cruzando a BR, olho para esquerda, vejo a uns 800 metros o farol de um carro ligado que vinha na direção Porto Alegre -> Sapucaia do Sul, um carro já parado na faixa, olho a direita os carros parados, quando fui olhar a esquerda, tarde de mais.
O carro me atropelou a 120 Km/h, eu estava a uns 20. Bom, para se ter uma idéia do impacto, bati com as costas no semáforo, que fica a uns 4 metros de altura, caí de cabeça no chão, o capacete não quebrou, apenas rachou no meio, desacordei quando bati com as costas no semáforo, acordei com a pancada da cabeça ao solo. Estava eu extremamente tonto quando abri os olhos estava sem noção de onde eu estava, agindo apenas por instindo, minha moto, onde está minha moto, tentei mecher o pescoço mas não consegui, tudo o que eu fazia era tremer, parecia um frio de zero graus mas a temperatura era de uns dezessete graus e eu estava entupido de roupas. Depois de uns segundos me dei por conta "acho que estou indo pra aula e me acidentei", ergui o braço direito, e pensei ora, estou bem, vou me levantar, mas nada das pernas se mecherem... o braço esquerdo, nada, só mechia a ***** do braço direito. Bom me arrastei até a mureta que divide as pistas e fui me levantando, não senti dor nenhuma, olhei minhas pernas totalmente destruidas, ainda não consegui ver meu braço esquerdo, porque não conseguia firar o pescoço e minha mão não mechia. Em mais ou menos um minuto chega uma ambulância, o pessoal me diz "não te mecha, rapaz tu está muito machucado, não se mecha", bom, pelo menos estou vivo pensei eu, o rapaz dos bombeiros tirou meu capacete, que só estava preso pela jugular, na verdade o cara cortou a jugular e o capacete caiu sozinho. Vi que dentro do capacete havia muito sangue, mas na minha boca eu não sentia o gosto de sangue, bom, pensei que havia quebrado o nariz ou algo assim, logo em seguida junta um monte de gente e não acreditam que aquilo que o carro bateu está vivo, o rapaz dos bombeiros faz um sinal de 2 com os dedos e pergunta "quantos dedos tenho aqui" eu respondo "dois", ele faz novamente agora com quatro dedos da mão esquerda e eu respondo "quatro", ele usa as duas mãos e agora faz um oito e eu respondo "quatorze" e ele diz "como???" e eu digo "quatorze" e ele fica expantado, eu digo a ele, cara eu só sei contar até seis e ai tem mais de seis. Todos se apavoraram, como aquele traste de gente podia sacanear o bombeiro, bom depois disso me pelara, cortaram minhas duas calças, minha jaqueta, meu moletom, minha blusa de manga curta e finalmente minha regata de pijama, estou eu ali de cueca deitado com um treco prendendo meu pescoço de forma que ainda não vi minhas pernas nem meu braço esquerdo. Nesse tempo toca meu celular que ficou intácto, o cara dos bombeiros atende, na chamada dizia "mãe" o cara disse a ela ele não está muito bem, eu grito (muito mau, nesse momento vi que eu cuspia sangue) eu falo com ela! então levanto o braço direito (a única peça funcional até então) e digo: mãe bati de moto, depois disso, desmaiei, apaguei. Parece que foi só o tempo de avisar a coitada, estou vivo!.
Me acordei um mês e doze dias depois no hospital, com as duas pernas para cima que mais parecia uma antena de tv de tanto ferro que tinha dentro. Meu braço esquerdo estava ali, todo enfaixado mas fiquei feliz, ainda o tenho!!! Eram aproximadamente uma e doze da manhã, meu pai estava do lado da cama dormindo e a televisão ligada, estava no SBT, filme Stalonne Cobra, a primeira coisa que vi foi o Cobra dar um chute na porta e dizer "você é a doença, eu sou a cura" depois disse ele sacou uma faca tocou no pescoço do bandido e crivou o cara de bala, olhei pro lado e tentei falar "pai, pai" mas não saia direito, até que meu pai se acordou, esvaiu-se em choro e viu que eu ainda estava vivo, diz ele que foi o momento mais feliz para ele após eu ter nascido. Bom, cinco meses deitado e várias cirurgias, quebrei a perna esquerda com fratura exposta na canela e na coxa com fraturas múltiplas, quebrei a perna direita, quebrei doze costelas, a clavivula, o braço esquerdo em três lugares e todos os dedos da mão esquerda em vários lugares, o pessoal decide me levar para casa. Já sem as antenas de tv nas pernas começou o trabalho de recuperação, o que mais deu trabalho foi a perna esquerda, que ficou mais detonada que o resto do corpo. Mas em fevereiro de 2006 já comecei a caminhar norlam, voltando a falar de moto, perda total, seguro: nenhum, nunca fiz, no fim das contas tomei no rabo.
Agora o cara que me atropelou: parado no semáforo naquele dia estava um policial civíl, assim que o cara bateu em mim o policial seguiu o carro que me atropelou e prendeu o cara uns minutos depois, o carro que bateu em mim era uma Belina 82 - Parachoque puro aço. Não tirei fotos de nada, nem quero ver nem imaginar, mas meus amigos viram a belina e disseram que parece que ela bateu num poste porque a frente entrou toda pra dentro.
O vagabundo que me atropelou estava embriagado, a 120 Km/h, nunca apareceu pra me pedir desculpas, nunca vi o cara, tomou cadeia por dois dias por dirigir embriagado e omissão de socorro. Pagou fiança de 1107 reais e foi liberado, em segunda instância processei o cara por lesões corporais graves, ele pagou mais uma multa de seissentos e poucos reais e andava solto pelas ruas.
A lei no Brasil é isto mesmo, o cara está solto e ficou preso por dois dias, nove meses da minha vida deitado, na cartinha que recebi em casa do SUS diz que foram gastos 28 mil só em cirurgias em mim, e pro cara, menos de dois mil reais.
Dei meu jeito, voltei a trabalhar e nos dias de hoje ando de comet 250, moto é liberdade, é tudo, se não posso ser livre prefiro a morte. Então, aqui fica minha história para o "levei uma fechada".
Nos dias de hoje não consigo correr, jogar bola, jogar volei ou qualquer merda, ainda bem que trabalho de programador de computador, sentado, graças a deus consigo fazer sexo normalmente.
Embora mais de um ano após o ocorrido, se algum advogado ler isso e tiver como colocar o cara na cadeia fico grato, sei onde ele mora e tudo mais, tenho vontade de matar o cara, mas quero ver ele sofrer.
Um forte abraço a todo e era isso!